quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Corrida aos Óscares

A última semana foi pródiga em visionamentos preparatórios da noite dos óscares:
Diamante de Sangue - Bom filme de acção e mais uma interpretação convincente de Di Caprio, embora continue a olhar para ele e achar que podia ser meu irmão mais novo. Este homem não muda??? Um grande actor de qualquer das formas mas ainda não é desta que leva a estatueta. A insinuação de romance foi discreta e penso mesmo que desnecessária mas compreendo que as fãs do Leo ficassem desapontadas.


A Rainha - A consagração de Helen Mirren? Muito provavelmente... é um bom filme mas não creio que alcance mais prémios além da interpretação feminina. A destacar as cenas do clã Blair e seu caos doméstico!




Little Miss Sunshine - Porque na América também existe muito boa produção independente, embora esta já seja bastante main-stream. Um filme que não induz a gargalhada mas também nunca deixa escapar o sorriso dos lábios... Ali estão as frustrações e os dramas quotidianos e simultaneamente as pequenas alegrias que nos fazem querer levantar da cama todos os dias...


Viagem à volta da cozinha do mundo em 12 meses

O mês de Janeiro teve a honra de iniciar um programa aliciante de pesquisa de sabores internacionais.

No reveillon esqueci-me de formular algumas resoluções pra este 2007. Estava ocupada em engolir a custo 12 passas pela 1ª vez na vida pois não gosto de passas, mas achei que este ano precisava de um empurrãozinho extra. Por isso, eis-me agora a divulgar um saboroso projecto: todos os meses visitarei um restaurante de cozinha internacional... Já que não há euros para ir à montanha, a montanha virá até mim ( o Moisés perdeu essa exclusividade há alguns séculos!)...

Janeiro foi o mês da Tailândia: "Banthai" em Alcântara. Gostei e olhem que aqui vos fala alguém muito pouco original no que diz respeito a alimentação. Os sabores são algo adocicados mas os pratos têm uma apresentação muito interessante. Gostaria de vos deixar algumas fotos mas proibiram-me de tirar, não os donos do restaurante, mas os meus companheiros de aventura gastronómica. Não percebem que uma imagem vale mais que 1000 palavras! Enfim, sugiro que vão e se deliciem. Por agora fica o site:www.restaurantebanthai.com

Aguardam-se cenas dos proximos capitulos... se tiverem sugestões de comida internacinal com restaurante em Lisboa, por favor não se inibam! Todas as sugestões são bem vindas. Se me quiserem acompanhar na próxima aventura, também são bem-vindos!

Até lá...

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Jose Gonzalez - Heartbeats

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Orgia Cultural

Caros leitores deste blog (ou seja, Sofia e alguma alma perdida que cá tenha vindo parar inadvertidamente...), desde já quero esclarecer que não foi a minha primeira vez. É verdade... Esta vossa amiga já passou anteriormente pela experiência de uma orgia cultural. Foi em Maio do ano 2005, era uma jovem sedenta de novidade e de excitação. Tomei um avião (com 2 Atarax nos bucho!) e desembarquei num verdadeiro antro de perdição no que à cultura diz respeito (... e não só, creio eu...) ITALIA. Na verdade, devo confessar, foi uma menage a trois: ROMA, FLORENÇA e VENEZA... Uma semana alucinante! Aconselho a todos...

De regresso ao presente...

No dia 24 de Dezembro recebi um presente envenenado: a fractura do meu braço esquerdo. Também gostei muito do desentupidor de canos com que a minha avó me presenteou, donde se pode intuir a origem da minha veia irónica. Mas o braço partido foi sem dúvida a piéce de resistence do meu Natal. Prognóstico: 6 semanas com gesso e incapacidade absoluta para o trabalho. Entrei nas fases de luto da Kubler-Ross, embora estas se reportem ao processo de morrer e a fractura do rádio não costume ser fatal. Neguei - pensei que era uma luxação. Negociei - se não fizer muito esforço isto passa. Raiva - porquê? porquê? porquê? Aceitei o veredicto de inutil social e finalmente entrei em depressão... (geralmente não deve acabar assim o percurso mas foi o que se arranjou). O que fazer durante 6 longas semanas? O excesso de tempo para quem nunca tem tempo pode ser embriagante e paralisador...

Resolvi investir na cultura... Neste mês tive o previlégio de assistir:


Ballet "Lago dos Cisnes" pela Companhia Nacional de Bailado... Não sei porquê mas estava convencida que o cisne encontrava a morte no seu gélido lago, todavia foi mais um final feliz.






Exposição de pintura "Amadeu de Souza Cardoso" - Gulbenkian (sim... eu também estive lá mas não esperei 3 horas nas filas... vantagens de se pertencer à aristocracia!)






Cinema... MUITO!!! Andei a fazer a ronda dos óscares: "Babel", "A Rainha"... recuso ir ver Clint Eastwood, desculpem os fãs. Aconselho um eterno esquecido: um divertido "Scoop" de Woody Allen. E como a magia caiu no goto de Hollywood este Inverno, também espreitei "O Ilusionista" (foi por causa do Ed Norton, confesso!) e "The Prestige"... giros mas não mais que isso. O meu preferido é mesmo "The Departed" ou não tivesse mafiosos envolvidos, porém tem sempre aquele pormenor que o torna alérgico ao galardão: Scorcese!

Não menosprezei a nobre arte do Teatro, assisti à peça "Fedra" no Maria Matos e tenho bilhete comprado para "Hamlet" (finalmente, to be or not to be...) no Olga Cadaval em Sintra.







Acabei algumas leituras menores que me andavam a apoquentar e peguei novamente em Rilke, perfeitamente coerente com o meu estado de espírito... embora "As cartas a um jovem poeta" não tenham a carga trágico-existencial habitual do autor. A seguir está na calha José Luis Peixoto... estou ansiosa!





Tudo isto regado com muita música. Nenhum concerto a registar, fico a aguardar por Maio e os Bloc Party mas por ora a deleitar-me com o novo registo de Damien Rice e a revisitar José Gonzaléz... Heartbeats (Veneer)Lindo!!!!!!





É caso para se dizer "que felicidade partir um osso"... É pena ter partido (metaforicamente) outra estrutura anatómica! Mas também esta cicatriza...


I can see clearly now the rain is gone
I can see all obstacles in my way
Gone are the dark clouds that had me blind
It's gonna be a bright (bright)
Bright (bright) sunshining day
It's gonna be a bright (bright)
Bright (bright) sunshining day
Oh yes, I can make it now the pain is gone
All of the bad feelings have disappeared
Here is the rainbow I've been praying for
It's gonna be a bright (bright)
Bright (bright) sunshining day
(ooh...)Look all around,
There's nothing but blue skies
Look straight ahead,
There's nothing but blue skies
I can see clearly now the rain is gone
It's gonna be a bright (bright)
It's gonna be a bright sunshine day
It's gonna be a sunshine, sunshine day
It's gonna be a sunshine, sunshine day
It's gonna be a bright sunshine day
(...)

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Por falar em amor...

Nos tempos do "Pedaços de Noz", a Carla Vidal escreveu uma meditação sobre o AMOR... Tive o privilégio de partilhar o momento em que este poema foi "gritado" ao público pelo grupo de poesia "Nós". Foi um momento ETERNO.

"É errado pensar-se
que só conseguimos amar
alguém que seja como nós
ou o perfeito oposto.

Não são traços de personalidade
que definem o amor,
ele surge sem obedecer
a qualquer lei.

É igualmente inútil
julgarmo-nos capazes
de o definir.
Não há definição possível.

Quem consegue explicar
o arrepio de um toque?
...o êxtase de um beijo
ou um bater mais forte no peito?

Quem consegue separar
a Razão do Sentir
ou definir o momento
em que a amizade
se transforma em amor?

Quem sabe indicar
um outro sentimento,
por mais forte que seja,
que sequer se compare ao Amor?

Nem um louco!
E os loucos sabem-no bem:
Podemos resistir a quase tudo,
Mas, será certo, ao Amor nunca!"

Carla Vidal, in Pedaços de Noz, 1997

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

O Amor

Costumava regozijar com uma certa independência emocional que me caracterizava. Até que descobri duas verdades dolorosas: que nem isso é motivo de orgulho, nem tão pouco é verdade...
Sou uma romântica, como todos os outros. Não nasci para a solidão, apesar de o ter proclamado durante muito tempo e de agora o temer. Tenho medo de ter convencido o mundo disso mesmo.
É tão difícil falar sobre o amor, tão inútil e utópico tentar reduzi-lo a palavras. Mas creio que todos o tentamos fazer quando seria tão mais sincero exprimi-lo num gesto.
Entende-se, as palavras são eternas, permanecem, ainda que numa célula de memória e os gestos são nus e desmascarados, numa sinceridade difícil de suportar. Estamos encarcerados numa repulsa inconsciente no que toca à nossa exposição emocional. Só o fazemos em troca de uma certeza contratual que nos assegura determinadas compensações, se cairmos no acidentado percurso da vida. E mesmo assim, nunca revelando parte do jogo, garantindo a possibilidade de desferir o imprescindível contra-ataque.
Abstemo-nos de sentir a verdadeira dimensão dessa palavra, por diversas vezes explorada, conspurcada e seguramente violada por outros sentimentos vãos, que se tornou promíscua e banal.
Assassinamos, pouco a pouco, a palavra amor e a língua inglesa demonstra-o bem: ama-se um homem como um hamburguer...
Falar ou escrever de amor é o mesmo que pedir a uma criança o enunciado da teoria da relatividade. Ridículo quem se presta a fazê-lo, na esperança de atingir certezas científicas e comprováveis. O amor pertence àquele reduto de entidades, guardadas na caixa secreta de cada um de nós e cuja chave deitámos fora.
É bem mais fácil falar de (des)amor. Vivemos com ele desde que somos... Está tão presente em mim como a própria natureza que me compõe. Define-me. Pinta o meu retrato.
Fico atolada num miserabilismo emotivo que contagia todas as restantes funções cerebrais. Não consigo pensar coerentemente, assolada por humores lábeis e irritáveis que afugentam todos à minha volta.
É triste não ser amado. Forja uma sensação de impotência, de incompetência relacional, de ausência de brilho na vida e esperança. E sou assaltada por pensamentos negativistas que se sucedem numa cadência asfixiante.
O amor, esse divino sentimento, o mais desejado sentimento, emergindo por entre os nevoeiros da eternidade... roça a mais ignóbil perversidade, caminha lado a lado com a infelicidade se o não experimentamos. Quantos de nós não vivem encarcerados num conceito mítico de amor, esperando apenas cumprir os rituais que a cultura universal nos impôs... sem perguntas, sem dúvidas. O amor, essa verdade incontestável, omnipotente, omnipresente, omnisciente... o único Deus legislador que não ousamos confrontar.

sábado, 13 de janeiro de 2007

Percorrer

Saio a correr de mim,
esbarro com o vento, que me atordoa e me empurra...
Caio. Para tocar dedo a dedo o chão,
que escorre areia fina...
Aproveito e construo mais um castelo,
daqueles que não tarda em ruir...
na espuma algures na madrugada, ou já num novo amanhecer.
Talvez me devolva o sal, com o qual tempera o que sou.
Ou talvez não. Talvez de tão salgado,
seja urgente o doce, esse, que por momentos me visita.
Cada vez são mais curtas essas visitas,
já não demoram, porquê?
Talvez a fonte dentro de mim,
afogue essa doçura, ao ponto de a diluir tanto,
que...deixa simplesmente de ser.
Talvez volte. Talvez a fonte seque.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Se eu pudesse recomeçar hoje a minha vida...

Estava eu a comer uma taça de cereais e a beber o suminho de laranja (dizem vocês, que belo pequeno almoço! digo eu, até seria não fosse o facto de se ter desenrolado às 14,30h... após um preguiçoso acordar subitamente impulsionado por um gritante black&decker), estava eu então a saborear um repasto light quando na tv uma psicóloga lançava o repto: "Se eu pudesse recomeçar hoje a minha vida..."
Aquilo bateu fundo na minha alma ociosa. Posso, devo, quero recomeçar... Nada de novo. Quantas vezes empreedemos esse renascer qual fenix emergindo das cinzas, por cada morte (simbólica!) que sofremos. Mas hoje aquilo soou-me bem! Fui logo a seguir ouvir Sérgio Godinho... "hoje é o primeiro dia do resto da tua vida". Só tenho pena que o dia tenha começado tão tarde - perdi toda uma manhã em deambulações infrutíferas no reino dos que dormem acordados - ainda por cima ao som de um berbequim. Se calhar é melhor recomeçar só amanhã... Mas fica a declaração de intenção.

domingo, 7 de janeiro de 2007

Silêncio...

O silêncio tem inundado estes meus dias, para te dar a palavra a ti amiga... Agora vês-te com o tempo que não tinhas, com desafios diários, que para os outros não passam de gestos rotineiros e demasiado fáceis. Tens tempo, demasiado tempo de te olhares ao espelho e veres, e sentires o que ves, e pensares no que sentes... enfim uma infinidade de sentires que as mulheres sabem vestir sempre, e quando têm tempo, para além de vestirem, despem e experimentam e mudam a cor e num desses vestir e despir, eventualmente por um breve instante na sua nudez, revelam-se. Já vou sabendo quem és...demasiado pragmática para te abraçares ao que te vai na alma, demasiado filosófica para com uma só frase falar do espírito e da intuição, demasiado feminina para vestires qualquer trapinho, sim podes vestir qualquer trapinho mas com um bom acessório, um bocadinho de cor na face... Demasiado mulher para seres invadida por sentimentos e teres coragem dos pintares para os outros, com uma doçura, às vezes mordaz...necessária. Admiro-te muito pela coragem de face às tempestades te deixares ir, para depois surgires ainda melhor, renovada, vivida e de alguma forma apaziguada. O bom de um combate, é o modo como depois falamos dele. Cá estaremos para contarmos as histórias a quem nos queira ouvir... Carpe diem...

Brinda-me com as tuas palavras!

sábado, 6 de janeiro de 2007

O fantástico

(Bosh)

O ser humano é fantástico... pela capacidade que tem em se enganar a si mesmo. Pela cega esperança que o faz acreditar em coisas que ele sabe impossíveis, coisas em que nem ele próprio acredita. Pela ingenuidade que se auto-inflige perante os momentos difíceis. O ser humano é sem dúvida um parente afastado da avestruz... enterra a cabeça preferindo não ver o que já irrompeu pelos seus olhos dentro, pelo seu corpo e alma.
Nem sei porque falei em alma. Nem acredito que exista... seria tão mais reconfortante se acreditasse.
Às vezes sinto que as milhares reacções bioquímicas falham em dar resposta a outras tantas questões que me povoam e afligem... Tal como me falha a espiritualidade. Não sei se não acredito no Outro Eu por ser racionalista ou se é por me ter sempre visto e sentido racionalista que sou incapaz de acreditar em Algo.
Só sei que eu, exemplar de bioquímica avançada que nenhum prémio Nobel conseguiu ainda decifrar, ainda procuro as respostas universais que muitos, comodamente, resolveram aceitar como suas, à luz de múltiplas doutrinas de outros mas que se confundem numa só.
Eu, fantástica como todos por me tentar enganar, ao mesmo tempo que teço a mentira que me imponho, o que por si só é um paradoxo universal.
Todos sabemos que vamos morrer. Mas não temos a morte como certa. É um conceito que facilmente admitimos para o vizinho ou para daqui a muitos anos. Muitos anos é sempre a distância que nos afasta do inevitável.
Ao contrário do que a palavra sugere, o inevitável é sempre algo que entendemos como distante. Certo mas longínquo... Nada o pode evitar mas irá chegar um dia, de preferência sem pressa. Com a certeza de que para os outros vai chegar sempre mais rápido.
A única morte pacífica é subita. É a única forma de não ser assaltado pelos fantasmas da incerteza, os demónios da dúvida se existe Algo mais...
Se Deus existe, parece-me a mim que esta é a sua última vingança... aproveitar os últimos momentos do Homem para o por à prova, para testar a fé e lealdade que muitos tentam urgentemente negociar para encontrar o tal Lugar e, supostamente, morrer em paz... mas sempre perseguidos pelo medo.
Somos fantásticos, os seres humanos, envoltos num masoquismo heróico que nos permite ter esperança de que a morte é inevitável, a alguns anos luz de distância...

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

O Marasmo

O tempo é o maior inimigo da alma. Ter tempo é sinónimo de pensar em coisas que a ausência do mesmo me ajuda a esquecer.
Quando tenho tempo parece-me que o espaço encolhe. Tudo me parece perto pois não me falta tempo para percorrer as distâncias que se atravessam no meu caminho. O tempo é uma expressão do marasmo que me invade. Tenho tempo para tudo... e consequentemente, não consigo fazer nada.
A inércia paralisa-me, especialmente o raciocínio. A emoção é antes projectada em mim exponencialmente, o que torna o tempo o maior amigo da minha angústia.
Não reconheço as propriedades medicinais que o senso comum atribui ao tempo. Algumas feridas não saram saudavelmente, transformando-se antes em quelóides sinistros que mutilam e destroem as representações reflexas do nosso ser.

Quando não tenho tempo sou parcialmente feliz. Isso obriga-me a construções e jogos mentais que elaboro incessantemente na tentativa de preencher o vazio. Mas abraço por momentos a felicidade de ser algo útil e produtiva, ainda que edifique castelos de areia que o vento ou o mar irão disputar e reduzir a nada. Os meus projectos são esboços transparentes que mal arranham o papel. São cinzas que o meu próprio sopro espalha.
O tempo não marca apenas os traços do meu rosto ou o peso nas minhas pernas. É letal para as minhas ambições de inconsequência ponderada e receosa.
Ter tempo dá-me sono. Mas um sono nefasto, estéril de sonhos, ou seja, ausente dos poucos artifícios que mantenho para garantir uma sanidade mental capaz de me fazer atravessar, discreta, subtil, espectral e impune, o caminho dos vivos de coração.

E neste marasmo me arrasto... tenho tempo para tudo, até para não fazer nada...

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Naufrágio

(sonia serrano)

Um ano passado
Arranco a folha do calendário
E abrem-se as escotilhas
Neste barco ancorado
No porto imaginário

Um ano largado
Sem remorso ou saudade
Salto de olhos fechados
Ao encontro da novidade
Que chega inevitável

O medo que me invada
Instilando o veneno da desconfiança

Naufrago
Nas folhas de um livro ainda por escrever
De um poeta adormecido
Pelos deuses do tempo absolvido
E condenado a viver

Um ano acabado
... Volto outra página

Novo Ano...

A minha amiga Vanda ofereceu-me pelo Natal o "Poemário 2007", onde no primeiro dia do ano Fernando Pessoa nos brinda assim;

COMEÇA HOJE O ANO

Nada começa: tudo continua.
Onde´stamos, que vemos só passar?
O dia muda, lento, no amplo ar;
Múrmura, em sombras, flui a água nua.

Vêm de longe,
Só nosso vê-las teve começar.
Em cadeias de tempo e do lugar,
É abismo o começo e ausência.

Nenhum ano começa. É Eternidade!
Agora, sempre, a mesma eterna Idade,
Precipício de Deus sobre o momento,

Na curva do amplo céu o dia esfria,
A água corre mais múrmura e sombria
E é tudo o mesmo: e verbo o pensamento.

(Fernando Pessoa - Poesia 1918-1930)


É o único momento do ano em que depositamos a ilusão de que o tempo pára, para dar lugar a um novo vir, que há-de ser diferente.

O momento de euforia dá-nos para saltar, com nota na mão ou sem nota, com uma taça na mão de champanhe, 12 passas que nos dão alento de que algures no universo esteja alguém a registar a multidão de pedidos para o novo ano, isto provoca uma fila de desejos, tal qual ic19 em hora de ponta, acho que no universo demoram o ano todo a registar os desejos pedidos naquele curto instante...é por isso que existem desejos que ficam por realizar...Há ainda os que batem os tachos à janela, na tentativa de anunciar que o novo ano já chegou (como se não nos tivessemos já apercebido). Depois da agitação toda (que dura mais ou menos 15 minutos) chegamos à conclusão que olhando à volta está tudo igual, o relógio continua no seu compasso, tudo gira igual. Fica a réstia de esperança de que mude alguma coisa ou não, e então vamos caminhando 365 dias para ver o que está por vir.


Este ano fiz tudo isso, o saltar com o Afonso ao colo, mais a taça e mais as passas. Saltei para um abraço onde me esperavam o André e a Vanda. A parte dos tachos não fizemos (até porque foram oferta da tia Graciete), mas fomos escutá-los para o quintal juntamente com o Lucas, Tito e Mia que olhavam assim sem perceber nada (porque é que estes estão para aqui aos saltos, e tanta gente à janela...).

Este ano não faltou a luz, mas a fotografia recorda a passagem de ano de 2006.
Bom Ano a TODOS