quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Sobre a natureza "par" e "ímpar" das pessoas

Existem pessoas cuja natureza é "par" e outras, por oposição, "ímpar". Digo isto sem me apoiar em estudos científicos sobre a mente humana, ou sequer numa sabedoria milenar importada do oriente. Falo porque vejo, porque sei e porque o sinto.

De quando em vez as pessoas "ímpar" mascaram-se de "par"... O logro acaba por ser descoberto rapidamente. É como se existisse um mecanismo de regulação interna no meio em que se movem. Estas pessoas chegam mesmo a acreditar que conseguiram iludir o sistema. Crêem que lhes é possível saltar a fronteira, mas os serviços alfandegários são escrupulosos e de uma eficácia a roçar a crueldade.

As pessoas "par" estão fadadas a encontrar a sua cara-metade. Sem ela estão incompletas e são incapazes de suprir as necessidades básicas do dia-a-dia. Quando o feliz e inevitável encontro se dá, não é de esperar grande surpresa. É apenas a confirmação de um dado adquirido... E persistirão juntos no tempo sereno que emoldura a vida ficcionada a partir de um argumento adaptado.

As pessoas "ímpar" vivem de improviso. Interpretam monólogos ocasionalmente partilhados. Não são mais inteiras que as demais, pois é da natureza do ser humano estar sempre aquém. É esta insuficiência que o faz mover almejando inexpugnáveis absolutos.

Eu gosto de acreditar que sou "ímpar" no sentido de ser inigualável, única e especial. Mas as pessoas "par" também usufruem deste dom. A questão que me atormenta é só uma: será que a minha singularidade é apenas fruto de um ego copioso, que não deixa espaço a quem me queira partilhar?
(Imagem: Par e Impar, Amadeu de Souza Cardoso)

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

A justiça tarda mas não falha...


... às vezes chega atrasada, é certo. Finalmente o reconhecimento de um nova-iorquino com um pé na Cosa Nostra. Curioso o facto do óscar chegar com uma película que retrata os meandros de uma mafia irlandesa, tendo sido inspirada no crime organizado de Hong Kong. Enfim... pormenores internacionais à parte, o filme é bom e o realizador muito melhor. O que não impede de me fazer sentir que a estatueta é entregue numa atmosfera de "... leva lá o prémio que já não podemos ouvir as campanhas pro-scorcesianas!" Até o próprio deixou o seu cunho sarcástico na cerimónia, quando solicitou que verificassem o nome impresso no envelope. Ainda bem que o não fizeram, não fosse materializar-se o fantasma Eastwood.
Por falar neste... estou mesmo convencida que o homem morreu e é o seu espectro que anda a assombrar as telas de cinema! Não gosto do homem, os filmes dele cheiram-me a mofo e naftalina.
Nada a declarar quanto aos actores. Não vi - nem faço tensões - o Dreamgirls (quem é que aguenta meia dúzia de músicas histéricas envoltas em papel de embrulho colorido ?!).
Fiquei com vontade de espreitar "Labirinto de Pan"... já reservei lugar no cinema. Depois digo se vale a pena... Embora valha sempre a pena, se a alma não é pequena. Resta saber como adaptar a expressão quando acreditamos que a alma é tão vasta e grandiosa como o vazio, dado que não passa ela própria de fabulação digna de um filme.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

... and the oscar goes to...


Em directo...
Amanhã comento!

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

O que esconde a máscara?


Máscaras

Esconder quem se é, para ser quem não se é,
por um momento, ou dia...
Atam-se panos, cosem-se botões nos retalhos que escolhemos vender aos outros.
Alguns compram o que vendemos, outros não.
Desfilam caras tristes atrás de tintas que escorrem com as gotas da chuva que se faz sentir,
e nós acreditamos nas cores alegres...como se de um arco-iris se tratasse (mas este nasce da fusão do sol com a chuva, da alegria com as lágrimas da tristeza).
Há ainda quem tape o rosto na esperança de poder ver os outros mas não ser visto,
dando uma dimensão nova à liberdade, onde tudo é permitido porque não se vê.
Assim, há quem arrisque SER o que nem sempre se pode ser.
Há ainda os que sem máscaras caminhem como se fosse outro dia qualquer, na certeza porém que ninguém repara.
Hoje gritam-se máscaras de "bocados de noz".

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Carros Modernos

Um amigo meu anda à procura de carro... Isso fez-me lembrar as nossas aventuras automobilísticas na cidade de Lisboa, comigo no papel de condutora (se não o epíteto "aventura" não se justificaria!!) O que é que eu hei-de fazer... o Schumacher inspira-me!
Isto para dizer que por vezes mais vale um assim:

(E depois tu é que tens fama de "street-racer"...)

O Sublime

"Sublime" é uma das minhas palavras preferidas por encerrar em tão poucas letras uma grandiosidade sem paralelo.

Ser belo não chega. O magnífico e o soberbo abstêm-se, invejosamente, de comparações inquietas. O sublime é tudo aquilo que não chega a pertencer a este mundo, tudo aquilo que se sustenta numa leveza etérea, resguardada num compromisso platónico com o real.

(A ouvir Hallelujah por Jeff Buckley... um beijinho ao João)

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Eu quero um destes!


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

O melhor poema com a palavra welcome para uma ilustre regressada

You are welcome to Elsinore de Mário Cesariny
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte
violar-nos
tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas
portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar

Regresso


Caros leitores:


Desculpem desde já esta ausência. Andei a navegar por lugares desconhecidos e regresso agora repleta de vivências por partilhar.
No passado dia 25 de Janeiro lancei a âncora numa terra por mim conhecida, a qual deixei há uns longos meses, em que tive a sensação de desde então, andar à deriva. Regressei num dia de nevoeiro, como se tivesse dificuldade em reconhecer o caminho de sempre e os rostos de sempre (restou-me a paciência dos habitantes de sempre - os colegas, dessa terra chamada UCA). Aos poucos o nevoeiro dissipou-se dando lugar aos gestos de sempre.

Dia 1 levei o meu co-dependente de mama para a creche. Como qualquer dependência (esta desde há 6 meses...) o desmame é muito doloroso, envolto de uma enorme vontade de vencer. Nesse primeiro dia no caminho para o hospital, chorei. Não por achar que ele fique mal entregue, nem que existe um "papão" a rondar a creche, mas porque significa um passo importante para ele. Agora pode abraçar o mundo, sonhar, desejar tudo, sorrir à vida. Deixou de estar reduzido ao espaço de uma barriga e de uma casa e de poucas pessoas. Quando ao final do dia o fui buscar, já lhe tinha nascido o 1º dente, e já era o principezinho entre 7 meninas. "Ele porta-se muito bem, só chorou um bocadinho para dormir, e comeu tudo, e é muito meiguinho, faz festinhas enquanto bebe o biberão". Bem e parece que afinal ele é mesmo um bebé tranquilo (é sempre melhor alguém que não eu - mãe- o confirmar...) e que eu tenho muita sorte.




Bem com o meu companheiro de viagem... fui ao cinema ver o Scoop, que adorei. Mesmo o que precisava depois deste jejum cinematográfico.


Também, como prometido há uns meses, comunico que terminei (já há uns tempos...) "A conspiração". Foi um chegar tranquilo ao fim.


O resto das viagens ficam para um próximo capítulo...

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007


Caros amigos, leitores deste blog (1, 2... 3 ou 4?)... Já ouviram falar de comentários? Façam o obséquio!

A gerência agradece... Jinho

Dia dos (Des)namorados

É verdade que se trata de mais uma efeméride cultivada pelo comércio e media... Deixem-me o conforto de acreditar nisto! E pode parecer-vos um acto no mínimo deprimente mas amanhã tenciono comprar o relógio do voodoo... e se me perguntarem na loja com um piscar de olho "É pra oferta, certo?" responderei que sim, é um presente para a pessoa que, para o bem e para o mal, nunca me será apartada, nunca deixará de me compreender e de me aceitar... Quem mais se não Eu, até que a morte nos separe (assumindo a dualidade platónica corpo-alma).
Para quem está neste momento a abanar a cabeça, com um facies levemente complacente a raiar a piedade miserável, relembro que um pouco de egocentrismo nunca fez mal a ninguém. Já dizia o anúncio da Matinal: "Se eu não gostar de mim..." E ter um namorado/a não é passaporte para a felicidade eterna. Quantas pessoas conhecemos que se arrastam em relações moribundas apenas por comodismo ou medo da solidão, esquecendo que temos sempre garantida a melhor companhia do mundo, a nossa pessoa. Pena não lhe dedicarmos o tempo e a atenção que merece.
Este post não é um desabafo invejoso mas antes um tanto ou quanto enjoado. Chega de corações e montras cor de rosa com ursinhos de peluche feitos no Bangladesh... Lanço um apelo aos namorados: sejam criativos e já agora, lembrem-se dos respectivos no resto do ano. Um presente inesperado tem um sabor totalmente diferente... e geralmente a diferença é pra melhor! (Salvo alguns presentes envenenados!!!)
Amanhã é o dia dos namorados ou de S. Valentim, um ícone obscuro que viu a sua santidade chegar à ribalta com o advento dos centros comerciais. Regozijo-me pois, não pertencendo a esse grupo social, disponho de mais 364 dias no ano especialmente dedicados a mim e a quem comigo partilha o mesmo fado. Parece-me um paliativo razoável!

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Eu não queria falar sobre o aborto mas...

Almada Negreiros, Maternidade

... acaba por ser inevitável. Não há veículo de informação que passe ao lado deste assunto, nem os blogs perdidos no obscurantismo da indiferença global, nem as próprias mensagens dos nossos contactos do messenger. Todos parecem querer divulgar a sua posição e defender os seus argumentos. Espero que no dia 11 continuem pro-activos, pois às vezes ir votar até é uma chatice, fica longe e está a dar um filme tão giro na televisão (esta parte é mesmo hipotética!!!)...

O "Sim" tem argumentos sustentados na evidência, o "Não" apoiados na metafísica: ambos totalmente válidos! Ambos com direito a expôr o que acreditam mas por favor, chega de debates que nenhuma conclusão produzem. Será que, ingenuamente, alguém ainda acredita que é possível convencer o "adversário" a mudar de opinião?

O "Não" acena com o direito fundamental à vida. Até aqui tudo bem, é um argumento de peso. Depois dizem que a lei actual já defende suficientmente os direitos da mulher. Em relação a isto duas coisas: a) quem define o que é suficiente? Um legislador? "Tens dirito a x a y e ... mas a z, é lá... isso nada feito! Já tas a abusar!!!"; b) o feto fruto de uma violação ou com malformações genéticas, não é igualmente vida? Pelos vistos apenas em parte. Aquela parte que o "Não" considera já estar devidamente coberta pela lei.

O "Não" acusa as mulheres que sofrem um aborto (escolha do verbo intencional!) de assassinarem o seu filho... e por isso defendem a manutenção desta lei. Outra incongruência: do pouco que sei, o infanticídio é punido com mais de 3 anos. Será que o filho-feto é menos filho que o filho-nado?

A campanha do "Não" assenta na metafísica mas como esta nunca alcança a dimensão do real, embora válida e cheia de razão, é estéril.

Não sou a favor do aborto mas também não sou a favor da criminalização de quem a ele recorre. Basicamente só sou contra o referendo. "Ah é porque coiso e tal e é uma questão moral e coiso...!" Ninguém me perguntou se concordo com a pena de prisão máxima de 25 anos. Um múltiplo homicida ser libertado a meio da pena por bom comportamento também me parece uma questão moral e não consta que tenha sido referendado. Esclareçam-me: se um partido é eleito por maioria absoluta é porque representa a maioria dos portugueses. Ok, alguns não concordam... Azar, a democracia é assim, nas próximas eleições manifestem o desagrado.
Alguém dizia, isto vai a referendo porque diz respeito aos direitos das mulheres, se fosse o contrário era legislado sem mais ondas. Estará aqui evidente um reminiscente desejo de controlar o sexo feminino? Descansem os que me tomarem por uma daquelas feministas que queima soutiens em praça pública (até porque a minha anatomia não mo permitiria e a lingerie de qualidade está bastante cara!)... mas não sei se o velho ditado andará longe da verdade: "onde há fumo, há fogo!"

domingo, 4 de fevereiro de 2007

Principe da Dinamarca

To be or not to be - that is the question;
Whether' tis nobler in the mind to suffer
The slings and arrows of outrageous fortune
Or to take arms against a sea of troubles
And by opposing end them. To die, to sleep -
No more - and by a sleep to say we end
The heartache and the thousand natural shocks
That flesh is heir to. 'Tis a consummation
Devoutly to be wished. To die, to sleep -
To sleep - perchance to dream.
Ay, there's the rub.
For in that sleep of death what dreams may come
When we have shuffled off this mortal coil...
Eis realmente uma questão de peso: aceitar as contrariedades de um suposto destino ou enfrentar os ditados da sorte... O sono da morte oferece falso consolo pois é estéril de sonhos. Se fôr o sonho que realmente comanda a vida...