quinta-feira, 5 de abril de 2007

Uma canção de Lisboa


Se viesses buscar-me à noitinha
À hora parda dos gatos
E dos amantes
Cruzando as esquinas e as calçadas
Falantes
De segredos esquivos
No silêncio ponteado pelas luzes vagas
E pelo roçar de sombras
Nas vielas de portas baixas
E furtivos recantos


Se tivesses vindo pela tardinha
Atrás do sol
Que ancorado no rio
Namora os telhados que a cidade abraça
Acenavas ao dia
Que bocejando num torpor guloso
Escondido no seio das colinas fartas
Tinge o céu numa embriaguez dourada

Se me tivesses acordado de manhãzinha
Arrepiando-me o pescoço
Com o calor do teu hálito
Roubando o lençol do meu corpo usado
Gemidos rasgaram a madrugada
Ecoando na alma da cidade


Nessa manhã me lembro
Que à tarde
Nunca fora tão longe de te ter
À noitinha




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