sábado, 16 de junho de 2007

Confissões de estrada

Vinha hoje no carro a fazer radio-zapping e entra-me no ouvido "Ninguém é de ninguém/mesmo quando se ama alguém". João Pedro Pais não faz parte da minha lista de audições habituais mas este refrão penetrou o meu ouvido, passou o tímpano, instalou-se no cortex cerebral a fazer-me cócegas. Depois as cócegas passaram a comichão. E do prurido a reacção urticária massiva.


O "nós" é uma fantasia, parte do imaginário colectivo universal. Não possuimos nada verdadeiramente, muito menos alguém. Tudo o que nos rodeia é alugado. Em algumas coisas assinamos contratos de longa duração, outras são créditos rápidos que nos fastiam o paladar. Tiramos delas todo o proveito, sugamos o que têm para nos oferecer até ao tutano para depois nos afundarmos nos juros altíssimos que cobram. Vivemos com a corda ao pescoço...

Assim se comporta a paixão: não somos um para o outro, estamos juntos, debaixo da guilhotina do efémero.

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