domingo, 11 de novembro de 2007

A Gula - o pecado capital mais... tótó!

Quem escreveu esta coisa dos pecados capitais tinha um problema com os obesos. Devia ser aquele tipo de pessoa que afasta o olhar quando se cruza com um indivíduo gordo, com medo de denunciar a sua repulsa... Admitamos, os indivíduos gordos despertam sentimentos ambíguos dentro de nós. Se por um lado achamos que são irresponsáveis por se deixarem chegar a esse ponto, por outro sentimos pena pela angústia que devem sentir para e por terem chegado a esse estado. De qualquer das formas, são ambos sentimentos reprováveis... quase pecaminosos, arriscaria dizer.

Já perguntaram a todos os obesos se são estupidamente infelizes por serem ou estarem assim? E "são" ou "estão"? Uma pessoa é gorda ou está gorda? Uma pessoa é corpo ou tem corpo, seja ele franzino ou anafado? (Ai as aulas de fenomenologia...) Muitas vezes parte-se do princípio que alguém diferente tem problemas com isso. O elogio da conformidade!

Fazendo uma inversão de marcha...

Quem escreveu esta coisa dos pecados capitais, se calhar era um visionário... Já previria ele que no século XXI a humanidade estaria a braços com o pesadelo da obesidade mórbida? Que um número considerável de seres humanos literalmente comeria até à morte... enquanto outros tantos sucumbem por fome. Caramba, o antigo testamento terá sido o primeiro tratado de cuidados de saúde primários? Excluindo as causas patológicas, ser gordo também pode ser um espelho da nossa relação com o mundo. Mais ou menos predadores... Vivemos para comer ou comemos para viver? Comemos porcarias sem qualquer valor nutricional porque temos fome? Que fome? Compensamos a nossa amplitude emocional com um petisco ou recusando pura e simplesmente alimentarmo-nos. Mas isto nada tem a ver com a gula...

Desconfio de todas as pessoas que não são gulosas, nem que seja em relação a um produto particular, um chocolate preto da Lindt, uma chamuça bem picante, uma poncha de tangerina fresquinha... Desconfio daquelas pessoas liofilizadas.

A gula, tal como qualquer outro pecado capital, é intrínseca ao ser humano. É por isso que é pecado... Quem escreveu esta coisa dos pecados capitais era um extra-terrestre ou um sociopata. Onde já se viu penalizar o Homem pelo facto dele ser aquilo que é? Os deuses do Olimpo procuravam imitar a vida dos humanos, eram indestrutíveis mas cravejados de defeitos e de certa forma vulneráveis. O tal gajo com a imaginação fértil, além de esquizofrénico, tinha 14 dioptrias em cada olho e era o último a ser escolhido para as equipas de futebol lá do bairro.


Eu era pecadora... agora ascendi ao purgatório mas é preciso continuar :)))

2 comentários:

sofia disse...

Curioso...Acabei de ouvir no telejornal que no âmbito da obesidade mórbida, a colocação de banda gástrica vai ser totalmente comparticipada pelo Estado. Os que não tem gula acabam por pagar a gula dos outros...Irónico!

Anónimo disse...

amiga não penses tanto em comida, o cérebro pode tornar-se mórbido
sg