domingo, 13 de abril de 2008

às páginas tantas...

Virar a página. Dito assim parece fácil, um acto mecânico. O cérebro envia impulsos ao braço e mão, o roçar característico das páginas, os olhos buscam instintivamente o canto superior esquerdo. Fácil...

Nem tanto, quando já se prevê, ao voltar então a página, um categórico "FIM", depois de um enredo que nos absorveu, nos fez ultrapassar as rotinas do dia com a promessa de mais emoções em estado escrito. Prolongamos o último parágrafo até à exaustão. Soletramos cada letra, repetimos a mesma frase com a desculpa de procurar um segundo sentido. Adiamos para amanhã o voltar da página, tapando o sol com uma peneira. A mesma luz que à transparência das folhas deixa antever o "FIM". Súbito, hitchcockiano, insatisfeito...

A seguir vêm páginas em branco... Imaculadas como a esperança. Quantas mais riscamos com gatafunhos absurdos, mais surgem do nada. Por cada uma rasgada e jogada fora, duas novas a engrossar o caderno.

Vencidos pelo esforço daquele último parágrafo, secos de imagens que falham na tradução para palavras, observamos inertes o espaço em branco. Paralizados pela magnitude do branco, pela pressão de corromper o branco porque é demasiado belo face aos dias cinzentos em que nos movemos confortáveis.

Podemos voltar atrás, dois ou três capítulos atrás, refugiarmo-nos no conforto de perguntas de respostas feitas, de lágrimas que sabemos irem secar... E sofrer duas vezes, três vezes mais com o fantasma omnipresente do "FIM" colado a cada linha. Voltar atrás... perdurar num parágrafo estéril, num subterfúgio inútil? Às vezes é mesmo preciso chegar à beira do abismo e dar um passo em frente. Voltar a página.

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