segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

O Amor

Costumava regozijar com uma certa independência emocional que me caracterizava. Até que descobri duas verdades dolorosas: que nem isso é motivo de orgulho, nem tão pouco é verdade...
Sou uma romântica, como todos os outros. Não nasci para a solidão, apesar de o ter proclamado durante muito tempo e de agora o temer. Tenho medo de ter convencido o mundo disso mesmo.
É tão difícil falar sobre o amor, tão inútil e utópico tentar reduzi-lo a palavras. Mas creio que todos o tentamos fazer quando seria tão mais sincero exprimi-lo num gesto.
Entende-se, as palavras são eternas, permanecem, ainda que numa célula de memória e os gestos são nus e desmascarados, numa sinceridade difícil de suportar. Estamos encarcerados numa repulsa inconsciente no que toca à nossa exposição emocional. Só o fazemos em troca de uma certeza contratual que nos assegura determinadas compensações, se cairmos no acidentado percurso da vida. E mesmo assim, nunca revelando parte do jogo, garantindo a possibilidade de desferir o imprescindível contra-ataque.
Abstemo-nos de sentir a verdadeira dimensão dessa palavra, por diversas vezes explorada, conspurcada e seguramente violada por outros sentimentos vãos, que se tornou promíscua e banal.
Assassinamos, pouco a pouco, a palavra amor e a língua inglesa demonstra-o bem: ama-se um homem como um hamburguer...
Falar ou escrever de amor é o mesmo que pedir a uma criança o enunciado da teoria da relatividade. Ridículo quem se presta a fazê-lo, na esperança de atingir certezas científicas e comprováveis. O amor pertence àquele reduto de entidades, guardadas na caixa secreta de cada um de nós e cuja chave deitámos fora.
É bem mais fácil falar de (des)amor. Vivemos com ele desde que somos... Está tão presente em mim como a própria natureza que me compõe. Define-me. Pinta o meu retrato.
Fico atolada num miserabilismo emotivo que contagia todas as restantes funções cerebrais. Não consigo pensar coerentemente, assolada por humores lábeis e irritáveis que afugentam todos à minha volta.
É triste não ser amado. Forja uma sensação de impotência, de incompetência relacional, de ausência de brilho na vida e esperança. E sou assaltada por pensamentos negativistas que se sucedem numa cadência asfixiante.
O amor, esse divino sentimento, o mais desejado sentimento, emergindo por entre os nevoeiros da eternidade... roça a mais ignóbil perversidade, caminha lado a lado com a infelicidade se o não experimentamos. Quantos de nós não vivem encarcerados num conceito mítico de amor, esperando apenas cumprir os rituais que a cultura universal nos impôs... sem perguntas, sem dúvidas. O amor, essa verdade incontestável, omnipotente, omnipresente, omnisciente... o único Deus legislador que não ousamos confrontar.

Sem comentários: