terça-feira, 8 de maio de 2007

Café frio

Sentada ao balcão, o silêncio entrecortado por respirações hesitantes na penumbra. Sentada a pensar sobre a vida. A vida breve que se escapa destes corpos velados, cada minuto em contagem decrescente. O que foram, o que ainda desejavam ser, ver, ouvir, fazer, sonhos e ambições estatelam-se contra o muro da doença. Vidas que perdem sentido a cada exalação.

Ou não... Não terá mais significância aquela vida que se extingue após uma viagem bem recheada? Do que a minha própria vida, soluçada em espasmos que agitam a aridez de um horizonte perfeitamente horizontal, geometricamente irrepreensível, agitado pelos soluços de uma vida espástica.

Sentada no balcão, as pálpebras pesadas e a inércia dos meus dedos segurando a caneta que se aninha nos meus dedos, inertes, gagos, estupidamente gelados.

O café ficou frio. Chamaram-me ali ao lado. Fiz o que tinha a fazer e desculparam-se pelo incómodo. Apetece-me dizer: incomodem-me!
Sentada no balcão com o café frio e os olhos esfumados entre pestanas coladas de sonho. O relógio arrasta-se... Estou sempre desejosa que o tempo passe mais rápido, para depois chorar a celeridade com que as coisas me passam.

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