quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Reflectindo sobre a pressa...

Prometi escrever um pouco sobre pressa, mas sem pressa.


Era bom saber onde anda o botão do tempo, quando este urge, e nós na correria do agarrarmos tornamo-nos como que transparentes perante nós, olhamos ao espelho, mas não vemos. Estamos, mas será que somos? A sensação dos dias se seguirem uns aos outros sem pausas é gritante. Ontem enquanto via o último episódio da I série de "Sete Palmos", e alguém perguntava a outro alguém "Porque é que temos de morrer?", Após uma pausa (a tal, necessária e urgente por vezes...) responde "para que a vida se torne importante". Parece simples, mas tal implica que tenhamos que fazer com que todos os dias sejam de facto importantes.


Hoje passaram por mim 24 pessoas enquanto trabalhava, entre as 8 horas e as 15h, parecia o jogo das cadeiras (que eram somente oito), mas neste caso ninguém fica por se sentar. Alguém se desculpava por não se conseguir vestir mais depressa, e algures entre palavras me confessava que se reformou há 3 meses, há dois meses teve uma dor de barriga, pensou que era do que tinha comido, fez um TAC foi operada de urgência, ficou com uma ileostomia, está a fazer quimioterapia, ficou sem acessos e lá estava a tentar agarrar o que sobra, a colocação de um implantofix.
Outro alguém chorou, porque perdeu a mãe há um mês e dizia, "sabe, não cheguei a tempo de lhe dar um abraço, vim tão depressa, mas não o suficiente"...
Depois "um homem não chora", dizem... Um homem que vinha fazer uma biopsia, saiu da sala de cirurgia, sentou-se no cadeirão, perguntei, "quer agora as bolachas que guardou?". Não! Quero chorar...e assim foi, durante 15 minutos o silêncio a guiar as lágrimas. "Perdi a minha mulher há dois meses, tenho uma filha com 15 anos que depende de mim e a minha mãe acamada. Não tenho tempo para estar aqui em compasso de espera, para que me digam se tenho ou não um linfoma, tenho tanta coisa por fazer lá fora"...


Parece uma telenovela, mas não é. Isto é vida, a vida das pessoas que se cruzam com a minha vida e que a tornam importante. Nem todos os dias são dias tão condensados, tão urgentes de dor, de aconchego...Há dias com menos nuvens, e é nesses que a minha pausa, não tem pressa.


1 comentário:

van cristjan disse...

O verdadeiro desafio é encontrar brechas entre as nuvens... para vivermos as nossas pausas.