quarta-feira, 16 de abril de 2008

Positivo ou Negativo

Fui buscar o resultado das minhas análises de rotina. Estou bem, a quem interessar o estado da minha saúde (física!) e apta a continuar as deambulações neste Bocado de Noz.
Abri o envelope e fui directa à última página, aquela onde estão os marcadores virais - hepatites e hivs. Nervosa, o coração acelerou uns quantos batimentos. Hesitei um segundo em que os vários cenários invadiram o meu consciente... Respirei de alívio, agradeci a Deus mesmo sendo agnóstica, saudei o meu anjo da guarda pois caso exista merece um olá, pisquei o olho apontado ao céu para que a alma da minha mãe - numa interpretação platónica do além - continue a interceder por mim junto de uma meta-autoridade superior, nem que seja vencida pelo cansaço (a protecção de uma mãe ultrapassa qualquer poder sobrenatural!)
Racionalmente sabia que a hipótese de uma notícia nefasta era remota, mas desafio qualquer pessoa a fazer o teste. Com maior ou menos propensão para comportamentos ditos de risco, o fantasma da SIDA ganhou lugar cativo dentro de nós (mais que o da Hepatite B ou C, de transmissão mais ampla e grande morbilidade).

Imagino a angústia de quem sabe que pisou o risco... o segundo de hesitação mais longo do mundo. Desmistifiquemos o tema: um HIV bem controlado pode ter o comportamento de uma outra doença crónica e o portador vir a morrer de atropelamento na 24 de Julho por um taxista embriagado, passe o preconceito... desta feita contra os taxistas!
Mas há o medo! Há sempre a dúvida insidiosa, instilando um veneno que nos faz tremer as mãos ao abrir o envelope. E se... Uma palavra contendo todo o peso de uma guilhotina, despertando o horror mais primordial, thanatos...

Falemos também do estigma, a ideia de estar associada a uma falha no carácter, a um comportamento socialmente reprovável. Ao duplo sofrimento por ser doente e recear ser apontado, colocado à margem ou enclausurar-se entre paredes de silêncio e contactos assépticos, votado a uma existência mascarada.
E o não saber?
E o suspeitar mas não querer confirmar?
E o saber mas não querer aceitar? Na esperança que seja um pesadelo, incorpóreo, fictício... Quantos destes deambulam entre nós, assassinos íntimos cruzando as nossas vidas.

Testem-se. Ah... e tão ou mais importante: PROTEJAM-SE!!!

Links (copiados do site da Abraço http://www.abraco.org.pt/)

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