sábado, 16 de agosto de 2008

Crónicas de Alcácer-Quibir... ou do Sal

Aqui vos fala a Cronista de El-Rei D.Sebastião, recentemente chegada do Sudoeste Alentejano após bizarra viagem ao futuro, que a levou do ano 1578 ao inimaginável 2oo8. Afinal o mundo não acabou em 2000... que grande novidade leva para a corte.

Corria Agosto de 1578 e caiu sobre o exército de El-Rei de Portugal desembarcado nas costas de Marrocos, um denso e feérico nevoeiro. Fui assaltada por uma inevitável desorientação espaço-temporal e não mais vislumbrei cruzados ou sarracenos.


Deambulei até encontrar uma bem-aventurada placa de "Alcácer". Fez-se luz perante os meus olhos, afinal não estava longe do destino da nossa comitiva.
Andei alguns dias, aos poucos fui-me cruzando com outras gentes, certamente indígenas pelas suas estranhas vestes e cabelos. Segui-as, pois caminhavam na direcção de uma original fortaleza de onde chegava grande alarido. "A batalha", gritei. "Peace, man"... responderam-me os indígenas.


Entrei. Poupar-vos-ei os pormenores bélicos... até porque curiosamente deixei de perceber quem era o inimigo. Jograis cantavam e bailavam num palanque iluminado por tochas incandescentes de várias cores... se conseguisse pôr mão em alguma, a corte ficaria maravilhada.
No ar um aroma singular que após algumas exalações descobri ter efeito inebriante sobre os sentidos.








Assim se passaram quatro noites. Durante o dia as pessoas deslocavam-se em extraordinárias carruagens sem cavalos - obra de algum mago superior - e banhavam-se em extensos areais. Eu segui-as na esperança de encontrar os meus companheiros. Sem sucesso...


Finda a curiosa peleja, a multidão desapareceu aos poucos, deixando os feridos para trás (os bêbados e os acometidos por alterações psíquicas). Nos estandartes lia-se Sudoeste 2008... Perguntei a um estrangeiro afinal que local era aquele e a quantos estavámos ao que me responderam: "Xii, meu... ainda não te passou a moca? Olhem-me este..." e afastou-se a rir, cambaleante.

Voltei para trás, perdida na noção do tempo e sem encontrar o local onde desembarcara, em vez dele um casario chamado Cacilhas. Tomei uma caravela surpreendentemente rápida e alcancei o que diziam ser Lisboa...

Fui internada neste hospício quando perguntei se corria ainda o ano 1578, mas vive-se aqui bem... e existe esta coisa da internet. Parece que afinal estamos no século XXI. Se voltar a encontrar aquele nevoeiro e descer os degraus de tempo, o Nostradamus que se cuide pois tenho novidades bombásticas do futuro!

2 comentários:

Anónimo disse...

Esse "denso e feérico nevoeiro" a que Vossa Senhoria alude era não mais que a mui doce e entorpecedora emanação de milhares de narguilés sobre os campos de batalha em Alcácer Quibir. Pois a nossa desdita não proveio do superior número, sabedoria táctica ou maior bravura – oh, isso nunca! – dos nossos ímpios oponentes, e sim da pérfida e entoxicante estratégia do Mullah. E assim o espesso manto de fumo cobriu o campo da contenda, toldando a visão e a razão dos pelejantes, foram os nossos valorosos mas inebriados soldados dizimados a bel-prazer pelas cimitarras lucidamente brandidas pelos infiéis.
A substância a que os sarracenos chamam chicha tem aliviado a angústia destes dias de cárcere. Temo, contudo, pelo meu juízo: tenho encetado amiúde diálogos imaginários com seres futuristas que suspeito serem sintoma d’alguma danosa maleita do espírito.
Entretanto, aguardo boas novas do Reino de Portugal e dos Algarves. Que numa manhã de nevoeiro seja finalmente libertado do jugo humilhante a que os meus algozes me sujeitam. Haverá designação para este sentimento messiânico que me aflige?

Escrita em tempo desconhecido e local incerto.

Anónimo disse...

bem...que dizer?? acho que o sudoeste vale sempre a pena mesmo com as deambulações sem rumo do exército presente. nós que vamos sabemos ao que vamos, viva a droga e a cerveja em excesso desde que sejam os outros a cair!!
sandra g