sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

contra-post


Venho por este meio refutar um post que publiquei há umas semanas atrás. Nele se podia ler uma afirmação de Camus: "A esperança, ao contrário do que se pensa, equivale à resignação. E viver não é resignarmo-nos." Não.
No outro dia falava (teclava) com um amigo (olá João!) que me fez repensar o anterior postulado e que tão bem serve a minha habitual descrença. E ele dizia-me que a vida é mesmo isso, resignação. Pus de lado o meu romântico ímpeto para a desesperança, sobrevalorizada no meio pseudo-intelectual desta pós-modernidade, da exaltação do catastrófico irreversível. Pus de lado... ao meu lado esquerdo que é aquele onde deambula a obscuridade, a face íntima do meu ser. Despi a atormentada heroína poética que costuma vedar a minha alma e constatei: todos os dias me resigno.
Todos os dias... nem um escapa. Parti o braço e vou ficar um mês coxa do meu quotidiano. Resigno-me e convenço-me que tive sorte por não ter sido o direito, ou uma perna e livre-nos de algo pior... Dizem-me ao telefone, gosto ma non tropo e resigno-me, todos os dias há desencontros. O meu não é mais duro, nem cinco metros mais ao lado de todos os outros...
Não me resignar é ir contra o instinto de sobrevivência. Posso ser heróica nas minhas fantasias mas tenho amor ao pêlo. E ninguém me convence que Camus alguma vez não tenha encolhido os ombros e dito: amanhã é outro dia e life goes on (isto na sua língua materna!).

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