quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

IC19

(Sebastian Garreton)

A bicha interminável boceja, agonicamente... perde-se no horizonte, num ponto distante, como uma estrela cadente. Ao mesmo tempo, não posso deixar de imaginar que mais alguém chegou a casa.

Embalados pelos sons balbuciantes que a rádio emite e que ninguém recebe, lançam olhares esgazeados pelos vidros fechados... talvez, por uma fracção de tempo que seja, outro olhar se cruze com os deles e mesmo sem palavras, envoltos numa profunda e espontânea empatia, partilhem a mesma voz da alma.
A maior parte das vezes são rostos vazios, absortos nos seus próprios corpos e mentes, alheios ao movimento circundante. Egocentricamente focados no seu umbigo, com as mãos pousadas no seu próprio volante.
Embriagados pelas luzes e ruídos estridentes de buzinas irritadas ou dos motores velozes da outra via, que parece estar sempre vazia quando não vamos nela, agudizam-se os complexos de perseguição e auto-piedade.
A maldição do IC19 cumpre-se todas as manhãs. Avancei cem metros em meia hora com um calhambeque colado à traseira, ameaçando perigosamente o pára-choques, tudo para impedir que os vizinhos da faixa do lado ganhem um metro por se imiscuírem na sua. Um minuto parece um século e a passividade incomoda-me, sobretudo porque espelha a minha incapacidade para controlar o próprio destino. Deixar-me ir, na corrente luminosa, é solução para os meus pecados e fonte das minhas ambições.

2 comentários:

Peixa disse...

Quererá isto dizer k precisas de mudar de casa??? talvez não porque assim vais tendo tempo na fila para pensar o k escrever no blog! Infelizmente, deves ser das poucas pessoas k usa a fila e o tempo k perde nela para pensar...

Peixa disse...

Este é só para partilhar: Olha o k vocês me fizeram com esta história dos blogs... Hoje deixei uma mensagem no blog do Júlio Machado Vaz! Estou uma destemida!