sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Luz de presença

“A minha vida não é isto!” Este pensamento assalta-me, insistentemente. Procura-me nos sonhos que eu não recordo. Como um murmúrio constante no meu ouvido esquerdo, enquanto o direito se procura alhear. Tatuada na minha alma. Olho de mim para mim, sacudo a cabeça em negação, desalentada com a certeza súbita que brota espontânea... a mesma certeza de que não vou fazer nada para calar a voz, ou sequer realmente escutá-la.
Estaciono o carro, de preferência naquele lugar junto à parede, desligo as luz só depois de rodar a chave na ignição, por mais que me elucidem do contrário... e faço a minha chamada ao real, o que traduzindo significa dizer que dou uma olhadela pelo espelho de cortesia, penteio as sobrancelhas e apresento-me à cara que surge do outro lado: “Boa noite. Caso não te tenham avisado, és uma das minhas clones... Preparada? Boa sorte... Encontramo-nos logo!"
Uma mulher bate a porta do carro com força e afasta-se em passo acelerado, quase decidido. Desaparece edifício dentro, engolida por uma construção de piso térreo. Eu... fico sentada onde estava.

O turno da noite é o que suscita as interpretações mais erróneas. Se é verdade que a maioria dos doentes dorme, salvo não tão raras excepções que atentam a paciência de um santo, a ideia de acordar alguém às 6 da manhã para lhe dar um comprimido irrita-me profundamente. Além de que é geralmente às seis badaladas que o meu corpo encontra o sono descansado... antes disso, o tumulto avassalador de uma mente hiperactiva extravasa. Projecto mil realidades que nunca se irão concretizar. Testo mil hipóteses de reacções possíveis a acções que nunca irei tomar. Às 6 da manhã sou novamente a criança inocente e despreocupada... e violam-me na minha ingenuidade. A noite quer-se calma, sem campainhas a rasgar o silêncio, sem idosos confusos e desorientados, ou monitores a apitar e os soros atrasados correm depois mais depressa...
A saída é às nove... em casa tudo dorme se é fim de semana ou tudo partiu de encontro à fúria do trânsito. Em casa toma-se o banho já a sonhar com os lençóis. Para acordar duas horas depois e ainda aproveitar o sol.

3 comentários:

Peixa disse...

"A minha vida também é isto" e eu gosto! Será k sou tonta? Claro k as noites são muito xatas, claro k os doentes desorientados tiram a paciência de um santo, claro k fazemos coisas menos agradáveis... mas quando gostamos, torna a coisa mais soft e fazendo o balanço (não o hidrico) é + . E quando não gostamos, acho k até somos suficiente inteligentes para dar uma volta e fazer qq outra coisa k (certamente) deve ser mais rentável (€)! Beijinhos

Peixa disse...

E não é k a Vanda tinha razão: os moonspel estão a cantar a canção do Nody no 'gato fedorento'... E mais uma para a Vanda (e para todos nós): "Pensar é fácil.
Agir é difícil.
Agir conforme o que pensamos, isso ainda o é mais." Goethe

van cristjan disse...

pois é cara peixa... o nody nunca me enganou!!!