
De quando em vez as pessoas "ímpar" mascaram-se de "par"... O logro acaba por ser descoberto rapidamente. É como se existisse um mecanismo de regulação interna no meio em que se movem. Estas pessoas chegam mesmo a acreditar que conseguiram iludir o sistema. Crêem que lhes é possível saltar a fronteira, mas os serviços alfandegários são escrupulosos e de uma eficácia a roçar a crueldade.
As pessoas "par" estão fadadas a encontrar a sua cara-metade. Sem ela estão incompletas e são incapazes de suprir as necessidades básicas do dia-a-dia. Quando o feliz e inevitável encontro se dá, não é de esperar grande surpresa. É apenas a confirmação de um dado adquirido... E persistirão juntos no tempo sereno que emoldura a vida ficcionada a partir de um argumento adaptado.
As pessoas "ímpar" vivem de improviso. Interpretam monólogos ocasionalmente partilhados. Não são mais inteiras que as demais, pois é da natureza do ser humano estar sempre aquém. É esta insuficiência que o faz mover almejando inexpugnáveis absolutos.
Eu gosto de acreditar que sou "ímpar" no sentido de ser inigualável, única e especial. Mas as pessoas "par" também usufruem deste dom. A questão que me atormenta é só uma: será que a minha singularidade é apenas fruto de um ego copioso, que não deixa espaço a quem me queira partilhar?
(Imagem: Par e Impar, Amadeu de Souza Cardoso)
2 comentários:
Estava no pc ás voltas a tentar arranjar desculpa para não ir realizar as agradáveis tarefas domésticas e lembrei-me da tua reclamação de que não comentava os teus posts. Não será a angústia do impar comum a todos nós? Mesmo quando paira a noticia de que talvez tenhas passado para o lado do par?
por falar em par, lembrei-me das tuas aulas de salsa, onde está o post sobre elas? e sobre os pares?:)
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