terça-feira, 3 de julho de 2007

Feira de antiguidades

Ainda a propósito do SBSR - prometo fotos em breve mas preciso de ler as instruções do telemóvel! - e do mui aclamado concerto dos Metallica, vejam só o que desencantei numa caixa refundida no armário... Uma ressalva, foi escrito em 93, logo, com uns imberbes 16 anitos e na sequência do primeiríssimo concerto a que assisti... ainda por cima eram feios, maus e ruidosos (dizia a minha mãezinha!).


"NOSSO MUNDO, NOSSA MUSICA

É sempre o mesmo som. Os mesmos acordes gritados na corda de uma guitarra. A mesma vontade louca de ser louco, porque a música nos chama, nos encanta e nos enfeitiça.

É sempre o mesmo tom. As mesmas vozes sussurradas a muitos decibéis de potência. A mesma vontade louca de soprá-las ao vento, que nos ouve. De fazer entrar por aquelas cabeças dentro as palavras proibidas. Tudo porque esta música nos chama, nos ecoa ferozmente nos ouvidos, como se tudo o mais não existisse.

É sempre a mesma paixão. O mesmo amor obsessivo por melodias harmoniosas, tornadas ruído no vocabulário obsoleto e restrito daqueles. É esse calor que nos invade, essa energia que nos consome, a eterna aliança impossível entre o senso comum e a ferocidade dos sons metálicos.

És sempre tu, nós e os loucos seguidores deste som. Lutando contra eles. Os que nada mais fazem do que levantar a voz e nos alvejar com falsas moralidades. Que nos ferem e magoam com a sua insistente e cega incompreensão. E se quando nos olham ficam chocados e têm medo e nojo de nós, a culpa é só sua. Porque fazem de nós marginais, rotulam-nos de lixo, excrementos de uma sociedade corrompida. Somos a escumalha, as almas perdidas! Comuns humanos tornados malditos… Isto perante os seus olhos porque para nós somos os mesmos. Continuamos a ser sangue e carne e alma. E não importa que falem assim de nós, sem saberem o que dizem. Porque sucumbimos à crença firme deste culto subterrâneo, renegado para a obscuridade. Porque este estado de alma é mais importante para nós que qualquer calúnia inventada.

Eles temem, eu sei, que nos transformemos tentados pelas vidas desregradas dos nossos ídolos. Pensam que nos perdem, que nos perdemos, ignorando que só nos marginalizando isso pode acontecer.

É sempre o mesmo ritmo. O mesmo ardor agudo nos olhos que nos obriga a cerrá-los, tentados por lágrimas de comoção. Porque esta música nos consola e nos despedaça. Porque desperta em nós a amarga ilusão de pertencermos a outro mundo, que não a este covil dogmático, mesquinho e asfixiante. A mesma vontade louca de balançar o corpo a um ritmo alucinante. Até a dor física nos desabitar. Até toda a dor se libertar de nós e se despenhar no abismo das emoções positivas.

É sempre o mesmo ritual. A tradicional ideia de que pertencer ao grupo mais temido e odiado dá estilo e faz de ti um indivíduo que no fundo não receiam, mas invejam. É sentirmo-nos protegidos e desculpados, quando caminhamos no fio da navalha, nos carris de um comboio que se aproxima. É sentirmo-nos o máximo, mesmo quando somos só nós e isso apenas ou tudo isso.

É sempre o mesmo som, o mesmo tom, a mesma paixão, o mesmo ritmo, tu e eu, nós os loucos, um ritual e aquela vontade louca de nos sentirmos, efemeramente, loucos.

16.06.1993 – Estádio José de Alvalade"


Já na adolescência tinha tendência para o melodramático... Apre!

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