Almada Negreiros, Maternidade
... acaba por ser inevitável. Não há veículo de informação que passe ao lado deste assunto, nem os blogs perdidos no obscurantismo da indiferença global, nem as próprias mensagens dos nossos contactos do messenger. Todos parecem querer divulgar a sua posição e defender os seus argumentos. Espero que no dia 11 continuem pro-activos, pois às vezes ir votar até é uma chatice, fica longe e está a dar um filme tão giro na televisão (esta parte é mesmo hipotética!!!)...
O "Sim" tem argumentos sustentados na evidência, o "Não" apoiados na metafísica: ambos totalmente válidos! Ambos com direito a expôr o que acreditam mas por favor, chega de debates que nenhuma conclusão produzem. Será que, ingenuamente, alguém ainda acredita que é possível convencer o "adversário" a mudar de opinião?
O "Não" acena com o direito fundamental à vida. Até aqui tudo bem, é um argumento de peso. Depois dizem que a lei actual já defende suficientmente os direitos da mulher. Em relação a isto duas coisas: a) quem define o que é suficiente? Um legislador? "Tens dirito a x a y e ... mas a z, é lá... isso nada feito! Já tas a abusar!!!"; b) o feto fruto de uma violação ou com malformações genéticas, não é igualmente vida? Pelos vistos apenas em parte. Aquela parte que o "Não" considera já estar devidamente coberta pela lei.
O "Não" acusa as mulheres que sofrem um aborto (escolha do verbo intencional!) de assassinarem o seu filho... e por isso defendem a manutenção desta lei. Outra incongruência: do pouco que sei, o infanticídio é punido com mais de 3 anos. Será que o filho-feto é menos filho que o filho-nado?
A campanha do "Não" assenta na metafísica mas como esta nunca alcança a dimensão do real, embora válida e cheia de razão, é estéril.
Não sou a favor do aborto mas também não sou a favor da criminalização de quem a ele recorre. Basicamente só sou contra o referendo. "Ah é porque coiso e tal e é uma questão moral e coiso...!" Ninguém me perguntou se concordo com a pena de prisão máxima de 25 anos. Um múltiplo homicida ser libertado a meio da pena por bom comportamento também me parece uma questão moral e não consta que tenha sido referendado. Esclareçam-me: se um partido é eleito por maioria absoluta é porque representa a maioria dos portugueses. Ok, alguns não concordam... Azar, a democracia é assim, nas próximas eleições manifestem o desagrado.
Alguém dizia, isto vai a referendo porque diz respeito aos direitos das mulheres, se fosse o contrário era legislado sem mais ondas. Estará aqui evidente um reminiscente desejo de controlar o sexo feminino? Descansem os que me tomarem por uma daquelas feministas que queima soutiens em praça pública (até porque a minha anatomia não mo permitiria e a lingerie de qualidade está bastante cara!)... mas não sei se o velho ditado andará longe da verdade: "onde há fumo, há fogo!"